Somos palavras, quem nos pronuncia
E nos une em sentenças tão estranhas,
Quem anda a soletrar pelas montanhas
Os nomes aquecendo a tarde fria?
Quem nos profere com melancolia,
Quem gesta nossas letras nas entrenhas,
E nos faz caminhar entre tamanhas
Contradições da noite à luz do dia?
Ah! Sopro que nos sopra sem ter boca,
Letras, quem ousaria assim tecê-las
No labirinto da garganta rouca?
Quem ousaria pois falar contudo,
Se o sangue das vogais vem das estrelas,
E as palavras se perdem num céu mudo!