Querido Paulo Bomfim...

Peço vênia para neste escrito referir-me a lembranças benfazejas relacionadas a sua pessoa.

Aos dez anos, residindo na cidade de Santos, recebi um livro, presente do professor João Guido Negrelli, irmão de minha mãe Lina. Foi em 1948. O livro era Antônio Triste, de sua autoria. Tio Guido disse-me: leia e releia, vale a pena, é poesia da melhor, é leitura para toda a vida.

Ora, Paulo, partindo de um professor de Desenho Técnico e Artístico foi premonição. Cinco anos mais tarde, durante minha formatura do curso ginasial no Colégio José Bonifácio, ofereci a ele o livro Transfiguração, também de sua autoria, com a dedicatória: Caro tio Guido (como o chamávamos), receba este mimo com respeito e admiração em retribuição e agradecimento por um dos presentes mais valiosos que recebi, o livro do poeta Paulo Bomfim.

Aos dezesseis anos, ainda na década de 1950, meus pais e eu retornamos a São Paulo. Então, um dos professores do Colegial, Naif Safadi, num debate sobre poesia, deu como referência o Relógio de Sol. Ele desconhecia que eu já o havia lido; recebera Relógio de Sol como prêmio de participação no programa Hora do Livro, que o professor Fernandes Soares produzia e apresentava na Rádio Gazeta, ao qual você, Paulo Bomfim, participava com freqüência.

Foi, então, que tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Uma dádiva! Liguei para tio Guido e perguntei: Tio, conheces o Paulo Bomfim pessoalmente? Ele respondeu negativamente. Então eu disse: Tive a satisfação de estar com ele, ganhei um livro de sua autoria que lhe enviarei quando terminar a leitura.

Querido poeta maior, a sua escrita é uma fonte perene de aprendizado e, em consequência de satisfação no seu mais alto significado. Com a leitura dos seus livros aprendi antes de muitos a amar a poesia, por isso, agradeço a Deus esse privilégio tão fundamentalmente importante para o melhor conhecimento da palavra que nos remete ao cerne da alma.

Ao citar esses fatos, fico emocionado. Mais ainda quando posso estar próximo de sua notável presença. Quisera que todos os jovens tivessem a oportunidade de conhecer a obra de um dos mais consistentes pilares da inteligência literária brasileira. Obrigado pelo seu saber, convivência e amizade. Que assim seja por muitos anos.

 

* Carlos Taufik Haddad, jornalista, editor, cerimonialista. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e membro honorário da Academia Cristã de Letras.

São Paulo, setembro de 2015