Poeta Paulo Bomfim completou 50 anos de Academia em 23/5/2013

Quinta feira, 23 de maio de 2013, no Largo do Arouche, 312 em São Paulo, a Academia Paulista de Letras realizou uma sessão especial e inédita na história dessa Casa de Literatura. Uma sessão festiva dedicada a prestar homenagem ao Príncipe dos poetas brasileiros, Paulo Bomfim, que era recebido há 50 anos na Academia pelo amigo Ibrahim Nobre.

O Presidente da APL, Antônio Penteado Mendonça abriu as comemorações lendo uma crônica que foi ao ar no dia 23 na Rádio Estadão:

“Hoje, cinquenta anos atrás, Paulo Bomfim tomava posse na Academia Paulista de Letras. Era a consagração do jovem poeta, no auge de sua carreira profissional, como jornalista e escritor.

Paulo Bomfim ingressou na Academia Paulista de Letras muito mais moço do que a média. Em 23 de maio de 1963 ele tinha 37 anos.

Para dar uma ideia de como ele era moço, eu entrei na Academia Paulista de Letras com 53 anos, o que, para os padrões acadêmicos, é ser muito moço.

Paulo Bomfim foi recebido por Ibraim Nobre, o grande tribuno da Revolução de 1932. Nada mais justo que isso, afinal, Paulo Bomfim é, até hoje, o herdeiro das tradições, da história e dos ideais que fizeram os paulistas irem à guerra para manter seu modo de vida, seus valores, sua busca pela felicidade e um futuro melhor.

Na época da posse de Paulo Bomfim, a cerimônia exigia casaca. Roupa de gala, para comemorar e marcar um evento raro na vida cultural do estado.

Os acadêmicos da APL são eleitos para toda a vida. Como são apenas 40 cadeiras, e só quando um acadêmico morre um novo é eleito, não acontecem muitas posses na casa.

Paulo Bomfim é o decano da Academia Paulista de Letras, quer dizer, é o mais antigo de seus integrantes, o que não implica em ser o mais velho. E ele é doce e amigo de seus pares.

Nestes 50 anos o poeta viveu as mais diversas situações, no dia a dia da vida e na Academia. Foram momentos alegres e outros não tão alegres, mas ao longo deste tempo ele não perdeu o brilho dos olhos. O brilho dos olhos de um menino permanentemente deslumbrado com o milagre da vida”.

E para completar sua homenagem, Antônio Penteado citou o primeiro texto do livro “Armorial”, fundamental na vida do poeta: - “Aos meus antepassados que ainda não regressaram do sertão, estes três séculos de espera”.

O Secretário Geral da APL, desembargador José Renato Nalini, disse que o aspecto que o toca em relação a Paulo Bomfim é que ele continua a ser “Aquele Menino”, poema que escolheu ler e homenageá-lo:

“Eu sou aquele menino

Que o tempo foi devorando,

Travessura entardecida,

Pés inquietos silenciando

Na rotina dos sapatos,

Mãos afagando lembranças,

Olhos fitos no horizonte

À espera de outras manhãs

Ai paletós, ai gravatas,

Ai cansadas cerimônias,

Ai rituais de espera-morte!

Quem me devolve o menino

Sem estes passos solenes,

Sem pensamentos grisalhos,

Sem o sorriso cansado!

Que varandas me convidam

A ser criança de novo,

Que mulheres, só meninas,

Me tentam a cabular

As aulas do dia a dia?

Eu sou aquele menino

Que cresceu por distração.

Dom Fernando de Figueiredo (Acadêmico) primeiro secretário da APL, lembrou os preciosos anos de convivência com o poeta Paulo Bomfim e diz que sempre o impressionou na pessoa do poeta, a força interior que o leva sempre a superar-se a cada página da vida. Contempla Paulo Bomfim poeta, Paulo Bomfim filósofo, cronista e historiador, dando os parabéns e desejando que Deus o ilumine e que Deus esteja sempre presente na sua vida, porque o poeta acima de tudo é um amigo sincero e verdadeiro.

Anna Maria Martins (Acadêmica) segunda secretária da APL, se referiu ao poeta Paulo Bomfim: “além do citado por Dom Fernando, como cronista, filósofo e historiador, como memorialista que expressa em sua trajetória literária, o profundo amor que sente pela cidade de São Paulo. Seus textos, inclusive prosa, ultrapassam fronteiras, mostra nas belas imagens, o vigor da palavra com que o escritor expressa, lembranças, ideias, fatos, história. Cito também a relevância da memória prodigiosa de Paulo Bomfim. O poeta conhece a história da cidade, seu nascimento, logradouros antigos, episódios significativos, vultos que marcaram o desenvolvimento da metrópole. De sua vasta produção literária, a partir de Antônio Triste, tem se ocupado os críticos. O escritor premiado enriquece agora a literatura paulista com o livro que acaba de publicar: “Insólita Metrópole”, que reúnem crônicas e fotografias com organização da historiadora Ana Luiza Martins. Termino esse breve depoimento com uma referência ao admirável companheiro da Academia Paulista de Letras, ao nosso Acadêmico Decano, sempre educado, sempre cordial. O intelectual Paulo Bomfim a parte de seus destaques como literário, reúne as qualidades que dignificam o ser humano”.

Paulo Nathanael (Acadêmico) primeiro tesoureiro da APL se dirigiu ao poeta: “Querido amigo e confrade Paulo Bonfim, O que dizer sobre você, em poucas e, nem por isso, menores palavras, tendo em vista o muito que representa para a literatura do Brasil, a obra feita de poesia e prosa, nascida do seu talento?
Afinal, não é fácil imaginar algo novo para saudar heróis, santos, poetas e varões de Plutarco, imortalizados pelo que fazem pelo que escrevem pelo que dizem e pelo que representam como é o seu caso, desde a chegada ao mundo do Antônio Triste.
Para mim, todo esse sucesso se deve ao fato de que você, melhor do que ninguém soube adotar um estilo vivencial, que harmoniza com perfeição o poetar com o existir. São duas facetas do seu ser que convivem noite e dia, numa invejável integração, uma enriquecendo a outra, e ambas se entrelaçando de forma tal, que sua presença existencial cresce na mesma proporção da sua inquietação poética. Você é o que você escreve e seu viver se faz dessa poesia, que incessantemente jorra da nebulosa lírica, que preenche todos os espaços do seu ser. A sua poética está na vida, como está nos versos. É, sobretudo isso que nos atrai em você, querido amigo.
Nada mais justo, pois, que esta Academia o festeja como o seu decano, no cinquentenário de sua posse, havido com pompa e circunstância, em 1.963. Juntamente com o abraço e os aplausos de seus pares, receba os meus, não apenas como decano, mas principalmente como o grande condestável desta casa”.

José Pastore, (Acadêmico) segundo tesoureiro da APL salientou que começou a conhecer Paulo Bomfim pelo Jornal Gazeta e Diário de São Paulo e depois pelo Rádio. E assim se manifestou:
“ Caro Paulo: Eu adorava os seus programas de rádio e adorava você. Mas, depois que você começou a falar na televisão, tive sentimentos duplos: gostava das suas falas, mas passei a ter ciúmes de você pelo fato de todas as minhas namoradinhas o acharem o galã mais charmoso do Brasil. Era muito difícil competir com você. Não era só eu que sentia essa dificuldade. Todos perdiam para você. Seu charme era e é realmente encantador.

Anos depois vim a encontrá-lo aqui na Academia. E vi que você, além de charmoso, é uma pessoa maravilhosa, um poeta de alta sensibilidade e um amigo de enorme solidariedade. De lá para cá, como as minhas namoradinhas..., cai de amores por você e nunca mais me recuperei... Um grande abraço, caro Paulo”.

Gabriel Chalita, (Acadêmico) destacou Paulo Bomfim como aquele que acolhe as pessoas, incentiva e vibra com o sucesso alheio. “Vivemos numa sociedade tão egoísta com relações líquidas, onde cada um pensa em si, em seu sucesso. Eu me lembro de quando entrei para Academia, a sua alegria, a sua comemoração. A marca do aprendizado que toca meu coração é Paulo Bomfim como o “Poeta da generosidade”. Que Deus te abençoe sempre”.

José Fernando Mafra Carbonieri (Acadêmico): “No tempo do giz e do apagador, de costas para uma classe atenta, o professor de literatura transcreve para o quadro negro um poema de Paulo Bomfim. Escolher um poema de Paulo Bomfim sempre foi uma tarefa muito fácil e injusta com os poemas não escolhidos. O poema transcrito para a aula poderia ter sido esse, do livro o Cancioneiro:

NO BAIRRO DOS DESENCONTROS

No bairro dos desencontros

Encontrei você, um dia,

Dois estranhos se tocaram

Em rituais de rebeldia.

Éramos jovens e o tempo

Se prendia em nossos dedos,

Foram noites de procura.

Madrugadas de segredos.

Éramos dois no infinito.

Ponte unindo solidões.

Foi com cordas de neblina

A seresta dos violões.

Alvorada de pardais

Na pauta negra dos fios.

E a cidade amanhecendo

Em nossos passos vadios.

A escolha é imediata e ingrata, porque o poeta ao longo de toda sua obra pratica o que chama: “a liturgia da beleza”. Todos os recantos da vida cabem na estética Bomfiniana e a ela se dobram para se eternizar. Ele é desses escritores que não só escrevem, mas inscrevem as suas palavras além do quadro negro, na deca(?) e imemorial onde o apagador não apaga coisa nenhuma. Paulo Bomfim comemora conosco seus 50 anos APL, é uma honra para Academia e para nós.

Raul Cutait (Acadêmico): “Quando eu ainda era estudante de Ginásio, a poesia me parecia algo incompreensível. Montar uma poesia era algo que ultrapassava minha competência. Mas sempre admirei quem faz poesia, os poetas. E nessa pirâmide de admiração, o topo é o Paulo Bomfim, que eu conhecia de nome e alguma leitura. Quando vim pela primeira vez à Academia, quem me levou para visitar a biblioteca, e estremeci tardiamente confesso, foi Paulo Bomfim. Isso ficou marcado porque nesse momento vi outra coisa. Vi não só o poeta, o príncipe, mas o homem com enorme brilho no olhar. José Alencar sempre me dizia que queria morrer com honra e pensei nisso por muito tempo e cheguei à conclusão que quero morrer é com brilho nos meus olhos. Ter vivido a vida com olhos brilhando. Isso é você Paulo Bomfim”.

José Gregori (Acadêmico) “Eu não ousaria tecer nenhum comentário sobre o homem de Letras, Paulo Bomfim numa mesa dessa qualidade. Eu vou me referir à figura humana. Paulo Bomfim é uma das grandes figuras humanas que tive a oportunidade de conviver na minha longa vida. Acredito que essa figura humana se define por principalmente conseguir reunir ao seu redor a unanimidade de opiniões a respeito de seu talento, dos seus sentimentos e do seu caráter.

Ruth Guimarães: (Acadêmica) Joaquim Maria Botelho, Presidente da UBE, leu em nome da mãe Ruth, o trecho inicial de um dos primeiros artigos escritos sobre Paulo Bomfim em 1956 por Ruth Guimarães na Revista do Globo:

“A POESIA dele não é altíssima, como afirmava da sua, orgulhosamente, Vinicius de Moraes, mas pura, simples, sem funcionalidade, como a de São Francisco e a de Ribeiro Couto. Ele é da família desses poetas de canto claro, de alma aberta, sem hermetismos e sem complexidade, é legível e acessível, isto que é tão raro agora. Canta como a água corre como amanhece, canta como os pássaros e como o vento. Com a mesma fácil destinação, com a mesma irrecusável tendência, com o mesmo gratuito entusiasmo. Por um momento, temi que ele fosse ficar nessa gratuidade das cantigas. Que fosse continuar o menestrel enamorado de castelãs, e fazendo descantes à lua, absolutamente fora do seu tempo, num anacronismo que é formoso, sim, mas não atinge mais a sombria beleza, e já não tem o mistério”.

Lygia Fagundes Telles (Acadêmica): “Quero homenagear o meu amado amigo, através de um belíssimo poema dele que diz tudo sobre a beleza da poesia de Paulo Bomfim”.

Aquilo que não fomos

Ninguém tem culpa
daquilo que não fomos.
Não ouve erros.
Nem cálculos falhados.
Sobre a estepe de papel;
Apenas não somos os calculistas.
Porem os calculados.
Não somos os desenhistas.
Mas os desenhados.
E muito menos escrevemos versos.
E sim somos escritos.
Ninguém é culpado de nada.
Neste estranhar constante.
Ao longe uma chuva fina.
Molha aquilo que não fomos...

Renata Pallottini (Acadêmica): “Paulo, você é testemunha que eu não chamo poeta a qualquer pessoa. Você para mim é efetivamente poeta. Um homem que sabe falar das nossas vitórias, mas também das nossas derrotas, dos nossos objetivos alcançados, mas também daquilo que nos tentamos por toda vida, inclusive na própria poesia, na feitura da própria poesia, aquilo que não conseguimos chegar a fazer, mas de que só por termos tentado já nos deu alegria. Você um dia me disse que escrever poesia é seu maior prazer, que chegava a ser maior o prazer do que a efetivação do amor. Eu não posso dizer mais do que Você é Poeta. Um poeta pra mim, dentre os poucos que restam”.

Miguel Reale Jr. (Acadêmico): “Eu era muito jovem quando conheci Paulo Bomfim, entrei na Faculdade quando Paulo entrou para Academia, 1963. De lá para cá sempre foi um encantamento. Paulo descobre a beleza em todos os instantes, em todos os momentos, em qualquer canto. Ele é um grande encantador dos outros. Obrigado por você fazer parte de nossas vidas”.

Eros Grau (Acadêmico): “Na sexta feira lhe telefonei você não estava, depois você me ligou. Quando o telefone tocou minha mulher atendeu. Eu fui até o escritório e falamos. Foi uma prosa agradabilíssima. Quando voltei minha mulher estava com os olhos cheios de lágrimas. Perguntei o que tinha acontecido e ela me disse que lembrava do Paulo Bomfim a 50 anos atrás quando tomou posse da Academia. Ela recortou o discurso de posse e guardou dentro de um livro. Seus olhos cheios de lágrimas, eram lágrimas de felicidade. Paulo Bomfim, é esse olhar encantado de uma menina moça de 16 anos que eu lhe trago agora junto com meu olhar de ternura”.

Fábio Lucas (Acadêmico) em sua homenagem disse: A Antologia Lírica – 63 poemas escolhidos pelo autor (S. Paulo: Miró Editorial, 2012) propõe, como o subtítulo indica, uma seleção que se tornou fruto da estimativa de quem a assina. O “eu poético”, no caso, navega sobre a onda da memória.

Trata-se, portanto, de um livro nostálgico. Nostálgico de vários “eus poéticos” que se construíram ao longo de uma carreira vitoriosa.

A cada passo adiante, os destroços da infância, da juventude e da maturidade são visitados. Tudo recolhido com a mão poética e com a memória dos dias felizes. Juntaram-se, na percepção simbólica, os versos aperfeiçoados e as lembranças enriquecidas.

Bem aventurado o poeta que pode recolher os frutos do caminho! Certamente estes vão fecundar as trilhas do futuro, a eternidade do verbo amadurecido.

Na data em que se celebram cinquenta anos de vida acadêmica, associo-me prazerosamente aos confrades que homenageiam o nosso decano.

O tempo fugaz que deu vida às reminiscências líricas de Paulo Bomfim é o mesmo que dará eternidade a seus versos. Permitam-me que transcreva, ou melhor, que sublinhe o soneto em que o poeta enfrentou os tempos mortos. Chama-se “Os dias mortos” (ob. cit., p. 50):

“Os dias mortos, sim, onde enterrá-los?

Que solo se abrirá para acolhê-los

Com seus pés indecisos, seus cabelos,

Seu galope de sôfregos cavalos?

Os dias mortos, sim, onde guardá-los?

Em que ossário reter seus pesadelos,

Seu tecido rompido de novelos,

Seus fios graves, relva além dos valos?

Tempo desintegrado, tempo solto,

Fátuo fogo de febre e de fuligem,

Canteiro de sereia em mar revolto.

Em nossa carne, sim, em nossos portos,

Quando o fim regressar à própria origem,

Repousarão também os dias mortos!”

Na República de Platão, a sabedoria seria prerrogativa dos filósofos governantes. Não se tornaria atraente para os poetas, pois os poetas costumam ser rebeldes.

Paulo Bomfim se apropriou da arte e do engenho que aprendeu e passou a usar, sem todavia, render-se ao radicalismo missionário dos parnasianos ou aos excessos musicais dos simbolistas. Assistiu às demolições dos modernos, dos que empunharam as bandeiras das novidades, das vanguardas e das experiências. Pacientemente adotou o coloquialismo, o vocabulário do cotidiano, os versos mais próximos da oralidade.

O soneto “Os dias mortos” dá lições de modernidade na composição morfossintática do poema, sem, todavia, abandonar a velha estrutura formal do soneto. Ousou nas rimas raras, praticou brandos “enjambements” e fabricou, em meio do primeiro terceto, perfeita aliteração: “Fátuo fogo de febre e de fuligem”. Com isso, sugere ao leitor os ruídos da combustão atiçada pelo tempo.

É bela a imagem acústica do poema. Basta que sejam lidos os decassílabos com ênfase nos acentos devidos. Versos heróicos, todos eles.

O mesmo verbo – “Os dias mortos, sim, onde enterrá-los?” -, inicial do primeiro quarteto, retorna no início do segundo quarteto, mas – atenção!- com o verbo mudado para “onde guardá-lo?”. A interrogação não fecha o sentido. Aliás, o poema todo oscila entre o som (agradável) e o sentido (consciência da busca impossível). O “objeto” perseguido é o tempo passado desintegrado, fuligem do que se esvaiu. Guardar é mais esperançoso do que enterrar. É menos final.

O soneto não é de fácil interpretação. Esconde recantos herméticos, pois, confessional, remete a objetivos não alcançados: o drama eterno do homem, força impotente. O poeta leva-nos até à beira do mito que acode aos leitores desde Homero: “Canteiro de sereia em mar revolto.” A lenda da tentação que fez Ulysses atar os pulsos.

O poeta de “Os dias mortos” contempla, na carne e no espírito, o porto de chegada, o fim da estrada, com o sonho e a esperança do renascimento. O fim que seja começo. Quem guarda admite reencontrar. E os dias vividos, tão assinalados? Repousarão para sempre? O soneto, pródigo em indagações, teme a pergunta que vinha sendo elaborada. Em tom elegíaco, em forma de lamento e triste canto, escuda-se na exclamação, na chave-de-ouro melancólica, timidamente conclusiva: “Repousarão também os dias mortos!”

Jorge Caldeira, (Acadêmico): “Eu quero dizer ao Paulo Bomfim, a imensa alegria de estar aqui em sua homenagem e quero deixar registrado uma coisa que aconteceu quando eu disse para minha Tia Odete, que foi colega da Anna Maria Martins no Colégio, que vinha para essa sessão especial da APL, ela me disse: “Você terá que me fazer um favor”. Fui ao lançamento do livro do Paulo Bomfim, Transfiguração e não tive a coragem de lhe pedir um autógrafo. “Esse livro me acompanhou a vida inteira, o Paulo é uma fonte de alegrias imensas, então, leve para ele dar um autógrafo”. E para encerrar minha homenagem lerei a primeira poesia desse livro.”

Soneto I

Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonia.

Provenho desses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.

Retenho dentro da alma, preso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha

Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo,
O cabo das tormentas de mim mesmo.

Maurício de Sousa (Acadêmico) Em homenagem ao poeta, Maurício de Sousa presenteou Paulo Bomfim com um desenho assinado por ele.

Ignácio de Loyola Brandão (Acadêmico): “Querido Paulo, uma alegria foi ter sido eleito para esta Academia, mas a alegria foi maior e vem aumentando, na medida em que convivo com você. Meu exemplo de como viver, criar, amar tudo com o coração e permanecer íntegro e divertido. Você é pura poesia”.

Convidados:

José Horácio (Presidente do IASP): “Querido poeta Paulo Bomfim, em tempos onde o exemplo é tão necessário e tão carente, temos o exemplo do poeta. E o poeta para as letras jurídicas tem uma simbologia enorme. Não sem razão, na Faculdade do Largo São Francisco, ostentam poetas que nos inspiram. E a sua inspiração é tão grande que o Tribunal de Justiça não prescinde da sua colaboração, como nos todos das letras jurídicas o homenageamos e nos sentimos eternamente inspirados”.

José Mecena (Diretor Presidente do Colégio Dante Aleghieri): “Estou muito feliz de ter vindo te dar uma abraço Paulo, porque nossa amizade que é de hoje e de sempre, data de 1947 quando entrei para Faculdade. Você já estava lá e Manoel Octaviano Junqueira Filho foi quem nos uniu. Fundamos o jornal Folha Acadêmica. A primeira poesia que publicada lerei agora”:

A se soubesses a tristeza imensa que me sufoca

Porque eras vida em minha vida

Carne em minha carne

E um sangue novo a me correr nas veias

Porque motivo tua vida se transforma

Num vago símbolo ou num hermetismo

Boiando na corrente dos meus versos

Rosa, taça de cristal, o mundo

Três símbolos em torno do teu corpo

Que é o mais perfeito símbolo da vida

Rosas são efêmeras

As taças de Cristal se partem no festim

E as nuvens se dissolvem no infinito

Porque ficaste sempre em minha vida

A rosa que desfolha em outras mãos

A taça que se quebra em outros lábios

A nuvem que se esvai em outros céus

Newton de Lucca (Presidente do Tribunal Regional Federal de SP): “É um privilégio estar aqui para lhe dar um abraço Paulo. Na minha vida, desde pequeno convivi com muitos poetas, papai tinha publicações dos poetas italianos, eu gostava de ler Camões, Bocage, Dante Aligheri, e me aproximei também dos nossos poetas e no meio de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Cabral de Mello Neto, apareceu também um tal Paulo Bomfim que eu nem sabia quem era e ao ler seus poemas, frases como: “Estou batendo os braços no ar parado”... versos que demonstravam a luta do poeta com as palavras. E isso me fazia lembrar Drummond quando dizia: “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã”. E vejo agora que são 50 anos de luta, dentro da Academia e que o ilustre poeta Paulo Bomfim, luta com as palavras para regar felicidade nos nossos corações”.

Paulo Bomfim leu seu agradecimento:

“No dia em que celebro com meus pares bodas de ouro com nosso lar intelectual, evocando Ibrahim Nobre que aqui me recebeu, gostaria de lembrar neste 23 de maio o espírito ecumênico que torna um arquipélago de quarenta solidões num continente de fraternidade.

A Academia Paulista de Letras nasceu ecumênica.

Entre seus fundadores encontramos J.J. de Carvalho, Luiz Pereira Barreto, Alberto Seabra, Estevam de Almeida, Gama Cerqueira, Rubião Meira e Adolfo Pinto, naturais do Rio de Janeiro; Gomes Cardim e Carlos Ferreira, gaúchos; o catarinense Monsenhor Manfredo Leite; os mineiros Prisciliana Duarte Almeida, Silvio de Almeida, Eduardo Guimarães, Basílio de Magalhães e Raul Soares de Moura e o sergipano João Vampre. Em seguida, continuando e enriquecendo esta casa, foram chegando outros brasileiros oriundos de vários Estados.

O cearense Raimundo de Menezes, os paraenses Carlos Alberto Nunes e Afrânio do Amaral, o sergipano Cleomenes Campos, o pernambucano Tavares de Miranda, os mineiros Aureliano Leite, Fábio Lucas e Dom Fernando Figueiredo, o alagoano Ricardo Ramos, os baianos Otacílio Lopes e Fernando Góes, os paraenses Hernani Silva Bruno, Eurico Branco Ribeiro.

Do Rio de Janeiro nos vem Washington Luiz, José Geraldo Vieira, Lycurgo Castro Santos Filho, Osmar Pimentel e Luiz Martins, os gaúchos Freitas Valle e Eros Grau, a italiana Ada Pellegrini Grinover, o português Domingos Carvalho da Silva, a russa Tatiana Belinky e o alemão Erwin Theodor Rosenthal encerram esta lista dos que vieram de longe para enriquecer esta Academia.

Mas o ecumenismo não se encontra somente na terra natal de alguns de nossos confrades.

No terreno das ideias, da política e da religião deparamos com o mesmo sentido fraternal: O presidente Altino Arantes, prócer perrepista, o integralista Plínio Salgado, o comunista Afonso Schimidt, o georgista Rubens do Amaral, o socilialista Sergio Milliet, o nacionalista Monteiro Lobato, o separatista Alfredo Ellis Jr, o monarquista Ataliba Nogueira; Franco da Rocha e pansexualismo, Pereira Barreto positivista, o democrata Julio de Mesquita Filho, o protestante Othoniel Motta, o jesuíta Helio Abranches Viotti, o espírita Eurico Branco Ribeiro, o judeu José Mindelin, os rebeldes da Semana de Arte Moderna e os revolucionários de 32, todos fazem parte desta centenária democracia acadêmica, com a qual comemoro neste 23 de maio tão cheio de significados, meio século de amor à Academia Paulista de Letras”.