Oh! Tristonho amanhecer.
Oh! Noturno da saudade.
O poeta que hoje partiu,
Deixou triste esta cidade.
Pois que, não foi qualquer poeta.
Não! Não foi poeta qualquer.
Foi Bomfim quem nos deixou.
Desfolhou-se o bem-me-quer.
Qual água que se evapora,
Ou brisa que se esgotou,
No reverso de sua vida,
Saí do corpo que habitou.
Atendeu surdo chamado,
Vindo das sombras infindas.
Talvez Guilherme ou Tarcila,
Acenando-lhe as boas-vindas.
Junto, Monteiro Lobato
Anita e Jorge de Lima.
Mais, Vicente de Carvalho
E Cecília com suas rimas.
Emy, que lhe foi um esteio
No amor e companheirismo,
Juntamente com Raul Paulo
Que navegou o fatalismo.
De Maria de Lourdes – mãe.
Também, de seu pai Simeão.
Quiçá de sua avó Zilota
- Da infância, em seu coração.
Almas afim lhe esperando.
Talvez, muitas outras mais.
Um “petit grand comité”,
Formado por ancestrais.
Paulo Bomfim, nosso poeta,
Foi templo só de grandezas.
Cultor de poemas gentis,
Bem rimados nas lhanezas.
Sereno guardião da história
E da alma dos paulistanos.
Seus versos têm dimensões
Que extrapolam os oceanos.
Florescido na cidade,
Trouxe fastos de alegrias
- Riqueza da sua lavoura...
Cancioneira de poesias.
Foi poeta tupiniquim,
Fez os versos de quem sabe.
Contou-nos, na plenitude,
Minúcias desta cidade.
Do passado, suas lembranças.
Do futuro, seus presságios.
Qual cepa de qualidade,
E visão de seus adágios.
Voz que canta esta São Paulo...
Memória de trinta e dois.
MMDC que o diga,
Pra não esquecerem depois.
Arcadas de São Francisco
Foi patente em seu fadário.
O seu amor ao Onze de Agosto,
E o seu elo ao Judiciário.
Precoce e predestinado,
Foi soberbo na cultura.
E, ali na Casa do Arouche,
Fez-se imortal... com doçura.
Pois seus feitos literários
Trilhados na tradição,
Junto àquele sodalício...
Uma avozeada oração.
E, com sua alma perfumada
No reino dos decassílabos,
Alça voo rumo à saudade,
Legando-nos os seus garbos.
O esmiuçar de suas lembranças
- Feito gotas de saudade -,
Vai espargindo na memória,
Aromas de suavidade.
Adeus, meu Poeta querido
- Mestre no uso da palavra.
Templo de nossas lembranças...
Guardiãs de toda sua lavra.
Lavra brotada de um mago...
Tecelão do seu destino.
Tecido nas teias da fé,
Com o dom mais cristalino.
Nosso príncipe dos poetas
Hoje é estrela no universo.
Feito bouquet de raios brancos...
A centelha destes versos.
Agora os lenços se agitam
No aceno da despedida.
Depois enxugam as lágrimas...
Verdadeiras e incontidas.
Tristeza que fica em nós.
Que guardamos sua memória,
Bomfim nos legou magias,
E escreveu sua própria história.
Vai poeta, voe o seu destino,
Que a fragrância de sua messe
- Bem colhida neste mundo –
Pra nós todos é benesse.