Fraterna partilha
Debruçada sobre “Meu Filho” de Paulo Bomfim

Paulo, Poeta, Paulo irmão
do coração naufragado:
tua elegia se espraia,
soluça em praia sem fim.

Vem Raul Paulo? Emergindo.
Das bandas de Itanhaém,
Ou da Barra do Sahy,
das lonjuras de Cascais
ou da ilha derradeira?
Ou do Rio de Janeiro?

Bem Raul Paulo, vem vindo.

Paixão pela liberdade,
todo amor por vocação,
o bater do coração
ao ritmo das ondas onde
há tatuagens de horizonte.

Vem vindo teu Raul Paulo.
Teu filho dos gestos largos,
religião da caridade,
noivo de impossíveis causas.

Teu filho navegador
sem concessão às rotinas
cerceantes das calmarias,
e da prisão dos sargaços
cerceando o navegador.

Teu filho feito de vôos.
A história de Raul Paulo.
Ó biografia do vento
que inventa o perfil das nuvens!

Currículo? De assistente
dos desvalidos. Doutor
em despedidas e mestre
de ternura em desencontros.

PHD em piedade,
uma cósmica piedade.
Vivendo a plena poesia
que o pai sonhou, lá vem ele.

Vai, neto de bandeirantes,
em busca de seus maiores
− os alumbrados que jazem
por sob a serra dourada
dos sertões do nunca mais.

Vai, moço da prece triste,
das feições de navegante
português e desgarrado
das naus de Vasco da Gama.

Ai, como dizer-lhe adeus?
Dói a saudade ancorada
em meu coração, também

Singra, de lágrima em lágrima,
o eterno mar refletido
agora no mar de Deus.