Capa de Dudu Santos - Livraria MARTINS Editora - Rua Rocha, 274 - Edf. Mario de Andrade SP/SP
Este livro foi composto e impresso nas Oficinas da Empresa Gráfica da "Revista dos Tribunais" S.A à Rua Conde de Sarzedas, 38 - SP
“TEMPO REVERSO" - Martins
A poesia de Paulo Bomfim deita raízes na terra paulista. Nem podia deixar de ser assim, se é dessa mesma terra “dadivosa e boa” que brotou a vergôntea rija que em nossos dias esplendeu nessa personalidade singular.
Na obra dêle, tudo fala de São Paulo, de sua ancestralidade e de seu futuro, de suas alegrias e de suas dôres, de seus malogros e de seus triunfos. Em verdade, descendendo daqueles bravos Ramalhos que ameaçavam destruir a Inquisição com as flexas desferidas de seus rudes arcos, os versos que lavra constituem uma constante glorificação dos feitos que enchem nossos cinco séculós de História, desde os lendários discípulos da escola de Sagres, até as maravilhas de nossos dias, em que não apenas se ergue nestas cabrálias terras um monumento de trabalho e de fé, mas também se balisam os fastos da vida contemporânea com inequívocas demonstrações de maturidade político-social. Em suas. veias e, pois, nos versos que compõem, há gritos de protesto de mamelucos, há invectivas de bandeirantes lutando contra os “reduzidos” das Missões, há entusiasmos de paulistas guerreando holandeses no Nordeste, há esperanças de mineradores nas jazidas bolivianas, há triunfos e desilusões de bateadores, de calções de couro, de bandeirantes, em todos os episódios de Sua pugna indômita contra o desconhecido.
Paulo Bomfim não é, porém, tão sômente o Poeta acantoado na pesquisa “histórica por amor de sua vocação. Não. O convívio com os manes de sua gente é a fonte permanente e pura de sua arte; é aí que vai abeberar-se para sonhar em Versos; mas é aí também que aprende a linguagem clara e escorreita em que se comprazia a gente de outras eras. Se é verdade que ainda eScassamente se conhecem os livros de que se constituía a bagagem dos bandeirantes, não é menos certo que êles falavam a língua portuguêsa legítima, a língua corrente ao tempo do outro lado do Atlântico e
é nesses escritores clássicos que Paulo Bomfim vai buscar a expressão exata que enriquece sua Poética em nossos dias.
E não somente a língua, no que ela tenha de mais acessível, isto é, O vocabulário, mas a sua própria essência, o seu ritmo, a sua musicalidade, a sua Vivência. Os poetas de língua portuguêsa conheceu-os todos, a começar pelo maior de todos, aquêle: que se chamou Luís de Camões, colhendo nas páginas de todos êles à lição e o exemplo, que vão surgir renovados e expressivos em suas Páginas. hodiernas.
Mas, isso ainda não seria tudo, se não soubesse o autor acompanhar de perto a pulsação da alma contemporânea, transfundindo nos Seus versos os anseios que, em tôdas as línguas, se extravasam - hoje em ritmos “Novos, em novas formas " Poéticas, em inusitadas manifestações artísticas. Paulo Bomfim é, assim, um poeta de seu tempo, de nosso tempo, conquistador de novas dimensões para a arte brasileira. Éste volume — ““Tempo reverso” — contém todos os elementos Gue singularizaram sua obra, mas acrescidos de dimensões novas, as dimensões que êle foi apreendeu na escuta de todos os clamores contemporâneos e no compulsar as maiores manifestações literárias “da hora que Vivemos. Seus Versos são Versos de um homem moderno, em que - “Céus e ancestrais terrenos se encontraram para mais certeza vir-a-ser”...
Mas, são sempre Versos, versos de ontem e de hoje. Versos de Poeta de verdade a: “o adeus pertence ao cais, algo nos grita/O nome, outros nos chamam das/batalhas,/Um lenço enxuga o suor de nossas falhas,/E remos batem contra “a laje escrita”...