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CALENDÁRIO - Martins
A poesia de Paulo Bonfim não foi e não é — como querem fazer crer alguns subliteratos amargurados com seu êxito junto ao público — uma poesia linear e de concessões. Tal assertiva ou é má-fé ou ignorância. Pois que a obra bomfiniana, desdobrada já em mais de uma dezena de livros, sempre se revelou surpreendentemente ambígua, colhendo em suas realizações concretas e em suas intencionalidades os mais afoitos e os mais incautos em julgamento peremptórios.
Na verdade esta poesia esconde em sua aparente nonchalance um autêntico e depurado despojamento que, a cada nôvo volume, reflui com mais intensidade — subproduto que é uma estafante pesquisa. Ora, êste despojamento não diz respeito apenas ao vocabulário, à sintaxe, aos tropos, às aliterações, enfim a êste complicado e multifário equipamento em que se vem a constituir a forma poética. Não. Éle vai mais longe. Vai às profundezas últimas da experiência sensória e racional do poeta, o submerge como escafrando no conhecimento dos homens e do mundo e, em uma palavra, condiciona o seu weltanschauung. Mas Paulo Bomfim, como um sábio arquimandrita, vai canalizando esta sua pesquisa poética — assim orientada — para os confins da alquimia e da magia, para as zonas fronteiriças da dúvida e da certeza, para Os limites ímpios do ser e do não ser, do eu e do não-eu, do sujeito e do todo um tido há muito destaque pe dectual pôsto em Ntement “ Despertar dos Mágico lado dêste poeta voltado para pros Ontológicos, axiológicos, Metafísicos, Snoseológicos etc., isto existe um Pao Pocaahistório m Paulo Bomfim inserido no Processo histórico. Aqui, também, temos uma ambivalência: o autor que transforma sua personalidade em heterônimos e avatares de uma vida históricamente pretérita e o autor que, com sua lucidez mediúnica, atravessa a névoa do presente — do estar aqui, da situação-limite e parte, guiado pela sismografia de sua sensibilidade, a tempos que estão por vir. Mas de qualquer modo — em qualquer dos pólos desta dicotomia — Paulo Bomfim é um desintegrado com o presente, êste não é mais que ponto de referência de sua inadaptação, de sua náusea, de seu desespêro. O passado toca-lhe os dedos “Os dias mortos, sim, onde enterrá-los?” / Que solo se abrirá para acolhê-los?”
O presente contraponteia o tédio: “Hã um cansaço de tudo pelo ar”.
O futuro o tenta: “Nascer de mim, de ti, de tantas provas / Que me iniciam como um deus futuro.”
Calendário é uma antologia de tôda esta produção, vincada tão marcadamente por estas coordenadas e tendo como pontos altos “Poema da Descoberta” e “Sonetos da Vida e da Morte”. Antologia das mais significativas do môrno panorama de nossa vida editorial.