Na década de dez, chega a São Paulo a oficialidade da 2ª Missão Francesa de Instrução Militar que iria reformular a Força Pública do Estado.
Durante muito tempo, a presença desses homens com uniformes vistosos, suas condecorações e seu cavalheirismo, ocupou o noticiário da vida social paulistana.
Mademoiselle Bourron, renomada professora de canto, reúne as alunas para um chá em sua casa, onde apresentaria os patrícios às moças em flor da alta sociedade bandeirante.
Mamãe, tia Cecília, Maria da Glória e Edith Capote Valente, Bia Coutinho e outras, irradiando a beleza de seus dezoito anos, compareceram à reunião.
Mathilde, esposa do violoncelista uruguaio Luís Figueras, fazia parte do grupo.
Mademoiselle, sentada à cabeceira da mesa, vai fazendo as apresentações.
Os oficiais inclinam o corpo num gesto de cortesia.
Mathilde senta-se em frente ao general que comandava a Missão Francesa.
Entre eles, o bolo de chocolate com cobertura de chantilly aguardava o início do chá.
As moças, num francês perfeito conversavam com os visitantes.
Subitamente, mamãe contava que algo estranho passou pelo olhar de Mathilde.
Foi tudo uma questão de segundos.
A uruguaia segura o bolo com as duas mãos e o esfrega no rosto do comandante.
Figueras, lívido, trinca os dentes que se partem.
O general levanta-se com o rosto e o bigode cobertos de creme. O uniforme de gala, as medalhas e os botões dourados respiram chocolate.
Mademoiselle Bourron tem um ataque de asma e desmaia na cadeira.
O comandante perfila-se e sem dizer uma palavra retira-se do chá acompanhado de sua oficialidade.
Mathilde continuou pela vida afora a sofrer estranhos impulsos enquanto o marido, de cabeleira revolta, passava ao violoncelo toda a emoção de ser casado com alguém tão diferente.