Comemorei com a saudade o centenário de nascimento de Carlos Lébeis, o tio que plantou no coração do sobrinho a semente da poesia.

Nos 40 anos que viveu, foi deixando pelo caminho um rastro franciscano de simplicidade e de sabedoria.

No depoimento de seus amigos Roquete Pinto, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes e Mário de Andrade, encontramos o retrato daquele que fez do coração albergue para as dores do mundo, pátria lírica dos grandes cantos de amor.

Vindo da escola de Mello Matos, tornou-se das maiores autoridades nos temas relacionados com a proteção à infância desvalida.

A convite de Sylvio Portugal, organiza em São Paulo o Serviço Social do Estado, que funcionou inicialmente no último andar do prédio da Secretaria da Justiça, no Pátio do Colégio e, posteriormente, no velho casarão do Senado, na Praça João Mendes.

Dos jovens advogados que acompanharam Carlos Lébeis em sua cruzada de redenção dos desamparados, assinalo, entre outros, os nomes de André Franco Montoro e de Nelson Pinheiro Franco. Nesses dois discípulos e em seu filho Fernando, o semeador tem seus gestos perpetuados.

A obra social e a obra literária de Carlos Lébeis precisam ser lembradas. No caso da literatura infanto-juvenil, “País dos Quadratins”, ilustrado por Portinari e “Chácara da Rua 1”, clamam pela justiça de uma reedição. Os “Quadratins” nunca saíram do poder, e a evocação da Chácara do avô Carlos Batista de Magalhães, em Araraquara, onde minha mãe, meus tios e primos passaram a infância, é das mais belas evocações do tempo que mora na travessura das horas fugidias. Alguns de seus poemas foram publicados por Dante Milano, na “Antologia de Poetas Modernos”, em 1935. Os outros, juntamente com “Cafundó da Infância”, ilustrado por Annita Malfatti, permanecem inéditos.

No início do novo milênio, o octogenário pára numa esquina do universo e pede a um moço de 40 anos: – A bênção, tio Carlos!