Remotíssima a lembrança que tenho de Leão Pio de Freitas, meu tio bisavô. Alto, olhos azuis, cabeleira e cavanhaque brancos, seu retrato encontra-se hoje na Câmara Municipal de Matão onde foi seu primeiro presidente e prefeito.
Na infância montei muitas vezes nos cavalos “Bugari” e “Valente” que mandara de presente para seus sobrinhos, Carlos e Guilherme.
Solteirão e monarquista convicto, passou a vida entre a política, o café e as mulheres.
De vez em quando indagava à minha trisavó, Donana:
– Mamãe, a senhora está comendo de boa farinha?
Ao falecer, vovó Donana, sua herdeira universal, torna-se milionária aos cem anos de idade.
A família se reúne e pede ao professor Antonio Carlos Pacheco e Silva para examiná-la e comprovar sua incapacidade de gerir seus negócios.
O psiquiatra resolve fazer um teste com ela que era analfabeta:
– Donana, se a senhora der para sua empregada cinco mil réis para fazer a feira e pedir que ela traga uma dúzia de ovos, cinco quilos de batatas, duas dúzias de tomates, três dúzias de laranjas (e vai enumerando o preço de cada coisa), quanto ela tem que devolver para a senhora?
– Pacheco, eu não costumo duvidar da honestidade de minhas criadas. Por isso, não é preciso conferir o troco – responde com um sorriso, minha centenária trisavó!
Tio Leão viveu muito tempo em sua fazenda com “Nhá Colaca”, quituteira emérita que estava sempre levando até a rede onde se balançava olhando o cafezal, biscoitos quentes, refrescos, licores e sorvetes. Quando “Nhá Colaca” morreu, mandou pintar seu retrato em tamanho natural, e sempre que os sobrinhos homens, iam visitá-lo, eram obrigados a render homenagem ao amor do tio.
Com mais de oitenta anos, participa que encontrara uma nova paixão.
Tio Carlos indaga:
– Mas tio Leão, o que é que essa senhora tem para atraí-lo tanto?
– Ela é muito submissa no leito, responde.
Dele permanece a imagem do cavaleiro que à frente de uma cavalgada de peões e apaniguados, entra em Matão empunhando a bandeira do Império. Era o Ano da Graça de 1902.