Senhor Erwin Theodor

Esta cadeira há três gerações vem sendo ocupada por pessoas que falam muito de perto ao coração do poeta!

Cláudio de Souza, o companheiro mais velho recebendo com alegria o meu Antônio Triste, José Leite Cordeiro, o Patriarca que transformou esta Academia no lar espiritual de todos nós agora, Erwin Theodor, a quem estou unido pela mais bela amizade em quatro décadas de jornada literária.

Ontem, a partida dolorosa de um paulista que soube com tanta dignidade cultuar seus antepassados e amar a terra bandeirante; hoje, a chegada a esta Casa do Professor ilustre, conviva de um mundo de personagens e idéias, colhendo nos abismos da inquietação aquela flor azul que marca heraldicamente o romantismo alemão.

Ontem, a gravata borboleta de José Pedro Leite Cordeiro pousando no ombro de Deus; hoje, a bagagem peregrina de Erwin Theodor aportando neste Largo de um Arouche, que também foi mestre!

O lugar que hoje é ocupado pelo autor da Lírica Alemã é porto de destinos e porta de conhecimento!

De seu patrono, o Barão de Piratininga, precursor da ficção paulista, até o estudioso de tantas literaturas, a cadeira com suas linhas clássicas vai enriquecendo a fisionomia intelectual de nossa grei.

Aqui nos reencontramos mergulhados no rio-tempo, aproximando distâncias e lendo no reflexo de nossas imagens a procura de um sorrir antigo.

Com a evocação de certos momentos vamos tecendo a tapeçaria de nossa precária eternidade.

Esta Academia embora não rodeada daquelas oliveiras sagradas que Sila teria transformado em máquinas de guerra, cerca-se das árvores nascidas nas terras do General Arouche, um militar que soube semear a paz.

E se Academos, o herói ateniense, indicou a Castor e Pólux o local onde se encontrava sua irmã Helena, essa mesma Helena caminharia através de Homero e Heródoto, iluminando a inspiração de Marlowe, para surgir como confirmação da perenidade da Beleza, no segundo Fausto de Goethe.

Convivemos num reino de signos e de lembranças, de evocações e de rumos novos!

A palavra que se transmuda em sangue e sacralidade habitante dos livros e guardiã dos arcanos, vai ligando épocas e confraternizando gerações.

Com livros construiremos o último forte à beira do deserto e de suas ameias, iremos contemplando a chegada dos bárbaros!

Professor Erwin Theodor

Viajar pelo "curriculum vitae" de Vossa Excelência é percorrer caleidoscópio onde vão se alternando caminhos eruditos surgindo que em Frankfurt, chegam vitoriosamente a São Paulo de Piratininga.

Entre esses dois marcos fundamentais de sua trajetória, brotam veredas que levam o peregrino a lecionar nas Universidades de Minnesota, Tübingen, Assis, Berlim, Lisboa e Colônia.

Sempre conduzindo a todas elas os ensinamentos adquiridos em sua amada Universidade de São Paulo, onde ocupou, com raro brilho, a Cátedra de Literatura Alemã.

A jornada de vossa Excelência, Professor Erwin Theodor, é Goethiana em sua paixão e em seu equilíbrio. Fausticamente o Acadêmico de hoje conserva a juventude do jornalista de ontem!

E a vocação democrática de Vossa Excelência nasce à sombra da Igreja de São Paulo, em Frankfurt, e chega a São Paulo de Piratininga, nascida de outra igreja que se transfigura em Colégio.

Duas cidades livres, duas cidades fortes, duas cidades cultas abençoam o destino do novo Acadêmico. Entre esses dois marcos sentimentais, ao lado da grande companheira D. Josefina e da encantadora filha Anamaria, foram surgindo os livros, as conferências, as aulas, as lutas de uma existência inteiramente dedicada ao saber.

Aumentava sua família espiritual aparecendo os "Estudos de Sintaxe Inglesa"; o "Apogeu da Lírica Medieval Alemã"; a "Viagem pela América do Norte"; "O Trágico na obra de Buchner"; "Os Recursos expressivos na evolução da obra dramática de Gerhart Hauptmann"; "Temas Alemães"; "Introdução à Literatura Alemã"; "Universo Fragmentário"; "Tradução, Ofício e Arte"; "Estruturas gramaticais do Alemão moderno" e outros.

A inquietação de Vossa Excelência acompanha seus leitores na descoberta de horizontes.

Em sua companhia viajamos por Goethe e Thomas Mann, por Nietzsche e Walter Benjamin, pelas Cantigas do Rei Henrique e pelas crônicas medievais, pela moderna literatura e por esses temas modernos que nos chegam através do sortilégio de Hölderlin e Novalis.

O jornalista Erwin Theodor, que colabora nos principais jornais brasileiros e que entrevistou notáveis figuras políticas no mundo internacional e do pensamento europeu; o radialista que assinalou com tanto talento os programas da "Rádio Gazeta"; o companheiro de jornada com quem tive o privilégio de conviver nas salas de aula da Faculdade de Filosofia, na Praça da República, e na redação de "A Gazeta", o vespertino que tanta saudade deixou no coração dos paulistas!

Quanta vivência Vossa Excelência foi colhendo nesse contacto com o mundo dos livros e com o livro do mundo!

Quanta experiência no trato com homens e palavras, com países e idéias!

E quanta simplicidade brotando dos gestos do catedrático que fazia da cátedra lição permanente da erudição e da fraternidade!

Na jovialidade de seus 60 anos, meu caro Erwin Theodor, comemoramos hoje quatro décadas de amizade e de convivência intelectual, que compartilho agora com os confrades deste sodalício.

Professor Erwin Theodor, ao lado das atividades e títulos de Vossa Excelência, ao lado da medalha Goethe de Munique; da Medalha Membro Titular do Instituto de Cultura Hispânica de Madrid; da Presidência de Honra da Associação Latino Americana de Estudos Germanísticos; do Doutoramento "Honoris Causa", pela Universidade de Lisboa; da Ordem das Palmas Acadêmicas da França; da Grã Cruz do Mérito da Áustria e da Cruz do Mérito, primeira classe da República Federal Alemã; Vossa Excelência, Paulista de Frankfurt, e brasileiro cidadão do mundo da Cultura, recebe hoje o crisma de tantos cultos de erudição!

Como padrinho, orgulhosamente proclamo seu novo título:

ACADÊMICO ERWIN THEODOR, da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS!