Conheci J. Wasth Rodrigues em 1945, no escritório de Guilherme de Almeida, na rua Barão de Itapetininga, em prédio onde existia o Hotel da Paz e se instalariam, futuramente, a Confeitaria Vienense e a joalheria do pai da teatróloga Maria Adelaide Amaral. Foi quando conheci também o Conde Frola, revolucionário italiano e Heraldo Barbuy.
Vim a encontrá-lo, novamente, na Livraria Martins Editora, na Ladeira São Francisco, que, tempos depois se mudaria para o Edifício Mario de Andrade, na rua Rocha.
Nessa época, o editor José de Barros Martins reuniu em torno de sua personalidade refinada de homem de velha raça, figuras exponenciais da civilização paulista. As reuniões em sua residência, na rua Abílio Soares, ocuparam o noticiário de mais de trinta anos da vida cultural de São Paulo. Sua esposa Edith, irmã de Lucy Montoro e da declamadora Lais Pestana e Silva, era a anfitriã perfeita de saraus onde gravitavam escritores, músicos, artistas plásticos, historiadores e visitantes ilustres.
Devo à Editora Martins a publicação de meu “Antonio Triste” em 1947, e de todos os livros que fui escrevendo enquanto a “Martins” existiu.
Wasth Rodrigues, que viria a falecer em 1957, ilustra com seu traço a heráldica do passado bandeirante. Ele, Belmonte e Clovis Graciano, formam o tríptico de retratistas da alma de nossa gente, seguindo caminhos desbravados por pincéis caboclos de Almeida Junior, dos Dutras e de Benedito Calixto.
Na parede do museu do Tribunal de Justiça, o brasão de São Paulo, de autoria de J. Wasth Rodrigues ostenta ainda sua primitiva legenda “Pro São Paulo Fiant Eximia” que evoca o clima de 9 de Julho, quando o Palácio da Justiça terminava seu acabamento e se preparava para ser inaugurado no ano seguinte.
Durante a Revolução Constitucionalista, o Governador Pedro de Toledo determina que o “Pro São Paulo” seja trocado por “Pro Brasilia”.
Em 1917, Guilherme de Almeida e J. Wasth Rodrigues, vencem o concurso para a criação do brasão da cidade de São Paulo instituído em 8 de Março pelo Prefeito Washington Luis. Nascia naquele momento o “Non Ducor, Duco” que se tornaria a griffe de uma metrópole e de um povo.
Em Julho de 1918, aparece o “Urupês” de Monteiro Lobato, com capa de Wasth Rodrigues. O autor de “Tropas Paulistas de Outrora” ilustra em 1933, “Brasões e Bandeiras” de Clovis Ribeiro. Um de seus trabalhos mais notáveis é o “Dicionário Histórico Militar” publicado pelo Centro de Documentação do Exército. “Documentário Arquitetônico relativo à antiga construção civil no Brasil”, com 160 pranchas reproduzindo igrejas, velhas casas e chafarizes, e “Evolução das Cadeiras Luso-Brasileiras” são também obras de grande importância para os estudiosos do período colonial e do Império.
No Museu do Ipiranga, encontram-se mais de quarenta trabalhos de sua autoria onde, em óleo, aquarela, guache e nanquim, resgata o passado paulista. Na entrada do edifício deparamos com painéis que pintou evocativos de D. João III, Martim Afonso, João Ramalho e Tibiriçá. Ilustrou também, “Salões e Damas do Segundo Reinado” de Wanderley Pinho, “Santo Antonio de Lisboa, Militar no Brasil” de José Carlos de Macedo Soares e a “História do Brasil” de Pedro Calmon.
Ao nos determos no Pouso de Paranapiacaba, no Caminho do Mar, ou na Ladeira da Memória, diante da arquitetura de Victor Dubugras, nosso olhar passeia pelos azulejos alegóricos de nosso retratado.
Na mocidade, ele que havia sido aluno de Oscar Pereira da Silva, recebe do governo, bolsa de estudo para Paris onde, na véspera da primeira grande guerra, torna-se amigo de um artista desconhecido, seu vizinho de mansarda.
Quando esse pintor livornês muda de residência, troca dois de seus desenhos pelo casaco do colega brasileiro.
Posteriormente, em famoso auto-retrato, o capote de J. Wasth Rodrigues pode ser visto agasalhando, num inverno parisiense, o gênio de Amadeo Modigliani.