Volto ao bairro da infância à minha procura. Nenhuma casa resistiu à marcha dos prédios que se sucedem, frios, habitados pela solidão.
Apenas a igreja da Consolação tenta me consolar de tanto desencontro.
Desço a Rego Freitas em busca da casa de dona Mocinha Macedo Soares, da residência dos Pitombos, do menino Octavio Ruggiero na janela, dos Albuquerque, dos Paula Santos.
Nenhum ponto de referência sobrou da velha chácara do General Arouche com sua parentela de Rego Freitas, Bento Freitas, Maria Thereza e o amigo da família o Padre Amaral Gurgel, professor do Largo de São Francisco.
O prédio Santo Antônio ainda resiste plantado no terreno da residência do cirurgião Antônio Cândido Camargo. No local da antiga mansão dos Cunha Bueno, o Hilton, hoje MMDC, a sigla heróica do vinte e três de maio, transfigura-se em vida nova sob administração do Judiciário Paulista. O M evoca Martins amigo de nossa família e morador da rua Major Sertório. O D é do jovem Dráusio que, se não me falha a memória, morava próximo dali na rua Vila Nova.
Lembro bem da atmosfera inquieta do 23 de maio e a ida no dia seguinte, com meu pai, para ver o local onde tombara os quatro moços.
Lampiões quebrados, árvores cravejadas de balas e um veículo virado na esquina da Barão de Itapetininga. Lembranças que me acompanham num retorno proustiano ao território da infância.
O edifício MMDC predestinadamente com 32 andares é clarinada lembrando aos paulistas que, a poucos metros dali ocorreu há setenta e oito anos o drama que se transformaria na epopéia do nove de julho.