Em 1960, por jornais, rádios e televisões, lanço a idéia da criação do “Dia do Bandeirante”.

Affonso de Taunay, Alfredo Ellis Júnior, Aureliano Leite, Tito Lívio Ferreira, Guilherme de Almeida e Julio de Mesquita Filho, emprestam o prestígio de seus nomes ao movimento. Este último escreve em “O Estado de São Paulo”, de 16 de novembro de 60, artigo intitulado “Notícia Nova”: “Atendendo ao apelo de um poeta, um governador resolve criar condições para que São Paulo se debruce sobre seu passado. Por decreto do governo do Estado, foi instituído em São Paulo o “Dia do Bandeirante”, destinado a marcar o início da “Semana do Bandeirante” que é comemorada nos principais núcleos de bandeirantismo do Estado, tem por fim acentuar “a importância do bandeirismo na formação da nacionalidade brasileira, notadamente o sentido histórico, geográfico e humano do movimento sertanista de São Paulo”..

“Essa pois, é uma notícia que escapa inteiramente à rotina do jornalismo cotidiano. Que nasceu do apelo de um poeta, e que se transformou em decreto pela compreensão de um chefe de Estado”. Conclui Julio de Mesquita Filho.

Esse ano, 14 de novembro, o “Dia do Bandeirante” foi comemorado em todas as escolas estaduais de São Paulo.

No ano seguinte, no dia 23 de novembro, recebo do Governador Carvalho Pinto a seguinte carta:

“Prezado Paulo Bomfim.

Agradeço a ampla e eficiente divulgação proporcionada a minha mensagem.

Por sugestão sua e apoiado na mais indiscutível justiça histórica, decretei a instituição do “Dia do Bandeirante” em novembro do ano passado, para que a epopéia do passado servisse às necessidades do presente.

Reconhecido pela colaboração com que você sempre distinguiu esta administração, em sua atividade jornalística, subscrevo-me atenciosamente.”

O Desembargador Flávio Torres, o único personagem de óculos do quadro “Operários” de Tarsila, contou-me que o Governador Carvalho Pinto participara com poema assinado “Cunhambebe” de uma das “Revistas de Antropofagia” dirigidas por Oswald de Andrade.

Encontro-me tempos depois, com o ex-governador chamando-o de “colega”. Vira-se para mim dizendo: – Paulo, você também é político? – Não, respondo, mas o senhor também é poeta! Sorri e me diz: – Indiscrições do Flávio Torres, meu colega de turma!

Nesse momento lembrei do convite que me fizera, através do professor Queiroz Filho, para participar de seu gabinete. Na ocasião, Queiroz Filho insiste em me lançar deputado estadual pelo Partido Democrata Cristão.

Outra feita, Roberto de Abreu Sodré marca encontro comigo e com Hélio Mota, no Banco Bandeirante. Convida-me a sair com um deles, para deputado estadual. Alego não ter dinheiro para uma campanha. Sodré responde que a UDN custearia a eleição.

Afirmo que se a UDN me financiasse, jamais seria um homem livre, pois estaria sempre preso a ela por dívida de gratidão. Sodré vira-se para o Hélio, meio espantado: – Mas ainda há disso?

Tudo me vem à baila a propósito de poema publicado numa Revista, assinado por um “Cunhambebe” que quase me levou para a antropofagia da política.