Amanheci com saudade de Afonso Schmidt. Tive vontade de sair para procurá-lo ou telefonar para a Publicidade “Sem Rival” ou para o Clube do Livro e deixar um recado para que ele se comunicasse comigo assim que chegasse. Senti falta de nossos encontros quase sempre casuais, de sua prosa moça, de nossos grandes silêncios.

Lembrei-me daquela noite tão significativa para mim, quando em casa de Samuel Pessoa, um homem de olhos de menino prestava atenção num menino que pretendia ter olhos de adulto.

Até hoje não sei bem se Afonso Schmidt partiu mesmo ou apenas deu mais uma de suas sumidas, daquele evaporar-se tão comum ao “Menino Felipe”. Sim, deve estar viajando, certamente está viajando. Cansou-se de vagabundear liricamente, de percorrer países exóticos, de conviver com marinheiros, gaivotas e boêmios de toda parte do mundo.

A esta hora estará parado em alguma esquina do universo, de cigarro no canto da boca, mãos nos bolsos, conversando com os heróis humildes que pereceram na luta pelo pão de cada dia, com seus revolucionários que adentraram a eternidade com uma rosa de sangue na camisa, com Paulo Eiró ou com São Francisco de Assis. Na certa prepara novas procuras e embarcará como passageiro clandestino numa nuvem que passa rumo ao desconhecido, ou será convidado de honra do Pequeno Príncipe para uma estada em seu planeta mágico.

Sim, porque Afonso Schmidt onde quer que se encontre, na dimensão que percorra, em toda estrela onde chegue, será sempre o irmão amado que retorna, cidadão do cosmos que leva apenas como passaporte um coração que abre todas as portas e é válido em todos os reinos.